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INTELIGÊNCIA ASSUSTA... José Alberto Gueiros Quando Winston Churchill, ainda jovem,
acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Cmara dos Comuns, foi
perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado
do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O
velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:
" Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu
primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um
pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência
que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta
inimigos. O talento "assusta." E ali estava uma das melhores
lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia
numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas em
posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da
inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: "Há tantos burros mandando em homens de inteligência que às vezes fico pensando que a burrice é uma Ciência".
Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais
obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios
deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do
poder. Mas é preciso considerar que esses medíocres ladinos,
oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições
conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não
conseguem passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas
estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos
lúcidos. Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão
do Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que
uma pessoa precisa fingir-se de burra se quiser vencer na vida. É
pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um
grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota automaticamente a
entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por
medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham
como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa
ameaçar. Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes
custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas
costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais
lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É
um paradoxo angustiante. Infelizmente temos de viver segundo essas
regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de
desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: "Finge-te de idiota e terás o céu e a terra". O problema é que os inteligentes brilham sem querer. Que Deus os proteja! valerius!
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